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Likes, padrões e ansiedade: a batalha das adolescentes na era digital

Especialistas alertam para os impactos emocionais das redes sociais nas adolescentes e reforçam o papel das famílias, da fé e da comunidade no acolhimento e fortalecimento da identidade

Likes, padrões e ansiedade: a batalha das adolescentes na era digital
Girls sisters are sitting at home using mobile phones for communication. Modern teenagers follow social media on mobile devices.

Por Patrícia Esteves


A adolescência é uma fase marcada por intensas transformações físicas, emocionais e sociais, onde a busca por identidade e pertencimento se torna um tema central. Nesse contexto, a série “Adolescência“, fenômeno recente da Netflix, explora os desafios vividos pelos jovens nesse período, abordando temas como autoestima, aceitação e o impacto das redes sociais na construção da autoimagem. Muito tem sido falado sobre os meninos, pois estão em destaque nos debates sobre a série, mas e as meninas?

É notório que as adolescentes enfrentam a pressão de corresponder a padrões irreais de beleza e popularidade impostos pelo ambiente digital, o que pode levar a inseguranças, ansiedade e até depressão. Ao trazer essas questões para o debate, tanto a ficção quanto a realidade apontam para a necessidade de um suporte emocional saudável, que pode ser encontrado na família, na comunidade e na fé.


O pediatra Daniel Becker destaca que as meninas são particularmente vulneráveis aos impactos negativos das redes sociais. Ele observa que elas “são mais sensíveis à questão da aparência, buscam padrões impossíveis de beleza impostos pela mídia”. Essa busca incessante por padrões inatingíveis pode levar a uma “erosão progressiva da autoestima e da autoaceitação”, conforme alerta Becker.

O psicólogo Francisco Regio, diácono no Ministério Mudança de Vida, em São José do Rio Preto/SP, corrobora essa ideia ao afirmar que “a quebra de confiança, pela questão da idade e por uma série de outros fatores, leva ao afastamento” e que “qualquer crítica, por menor que seja, em cima desse processo, desse tipo de atitude, é tomada como violência psicológica”. Esse afastamento pode ser um dos gatilhos para a solidão e a insegurança das adolescentes.

Becker destaca que estudos confirmam essa preocupação. Uma pesquisa do University College London revelou que meninas adolescentes são duas vezes mais propensas que os meninos a apresentar sintomas de depressão relacionados ao uso das redes sociais. Fatores como assédio online, sono precário e baixa autoestima foram identificados como contribuintes significativos para esse quadro.


As redes sociais como agravante


O psicólogo Jonathan Haidt, em seu livro “A Geração Ansiosa”, aponta que a introdução precoce de smartphones e o acesso irrestrito às redes sociais têm contribuído para um aumento nos índices de ansiedade, depressão e automutilação entre adolescentes, especialmente entre as meninas. Haidt sugere que a superproteção no mundo real e a falta de proteção no mundo virtual são fatores determinantes para essa realidade.

Francisco também destaca a necessidade de acolhimento e conexão entre pais e filhos. “O principal fundamento disso tudo chama-se confiança, ternura, acolhimento dos pais a toda e qualquer situação. Porque, às vezes, o filho ou o adolescente não quer relatar para o pai o problema que está sentindo por acreditar que o problema dele é uma bobagem”, lembra.

Ele enfatiza que a percepção do adolescente deve ser validada, pois “quando ele não é respeitado nessa característica, ele se afasta dos pais”. Esse distanciamento pode ser intensificado pelo uso excessivo das redes sociais, onde as adolescentes buscam refúgio, muitas vezes encontrando apenas padrões irreais e comparação social.


A perspectiva cristã e o papel da comunidade


Do ponto de vista cristão, a valorização da identidade individual e a compreensão do valor intrínseco de cada ser humano são fundamentais. A Bíblia nos lembra que somos “feitos de modo especial e admirável” (Salmo 139:14). Essa verdade deve ser reforçada nas jovens, ajudando-as a resistir às pressões externas que distorcem a percepção de si mesmas.

Além disso, a comunidade de fé tem um papel crucial em oferecer suporte e orientação. Criar ambientes onde as adolescentes possam compartilhar suas lutas sem medo de julgamento é essencial. Programas que promovam o uso consciente da tecnologia e atividades que fortaleçam a autoestima podem ser implementados nas igrejas, proporcionando alternativas saudáveis ao tempo excessivo nas redes sociais.


Francisco alerta para a necessidade de conexão entre gerações. “A nossa sociedade criou uma determinada barreira. É: ‘meus filhos lá, eu aqui, geração X, geração Y, geração Z’, cada um na sua geração, eu não entendo, ‘isso é coisa de jovem'”, declara. Ele argumenta que essa separação dificulta a comunicação e reforça o isolamento dos adolescentes. “Existe muita dispersão de pensamento, quando, na realidade, deveria ser o quê? Uma conexão, uma junção”, reforça ele.

Proteção e fortalecimento das adolescentes


Para mitigar os efeitos nocivos das redes sociais, é imperativo que pais, educadores e líderes religiosos trabalhem em conjunto. Estabelecer limites claros para o uso de dispositivos eletrônicos, incentivar atividades presenciais e promover diálogos abertos sobre os desafios enfrentados no ambiente digital são passos fundamentais.

O pediatra Daniel Becker enfatiza a importância de reforçar que as meninas “são maravilhosas do jeito que são” e que “crianças e adolescentes não precisam ser perfeitos, mas precisam ser felizes”. “O skincare infantil parece uma bobagem, mas é um sintoma cruel dessa mercantilização do corpo. Marcas e influenciadores criam pressões estéticas para crianças de 8, 9 anos, que acham que precisam ser lindas, que têm que se maquiar para sair na rua e vestir roupas caras de marca (…) Esse ambiente gera uma erosão progressiva da autoestima e da autoaceitação”, destaca.

Francisco complementa essa visão ao afirmar que os pais precisam transmitir aos filhos a certeza de que são confiáveis e capazes de ouvir sobre todos os assuntos que eles queiram conversar. “Toda vez que você se sente acolhido, você baixa a guarda, abaixa a tua ansiedade. Você pode confiar naquela pessoa, e aí se abre e se sente importante”, ensina.

A sociedade, incluindo a comunidade cristã, é chamada a ser um refúgio seguro para essas jovens, oferecendo-lhes ferramentas para navegar no mundo digital sem comprometer sua saúde mental e espiritual. Ao fazê-lo, reafirmamos o valor inestimável de cada vida e cumprimos o mandamento de amar e cuidar uns dos outros.




Fontes: site Comunhão

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